(fábula africana)
Kia-Tumba era o mais belo rapaz
da tribo e não havia moça que não sonhasse casar-se com ele. Em vão, porém, o
pai lhe dizia:
—
Meu filho, já é tempo de se casar: escolha a moça que o agradar.
Kia-Tumba
fazia ouvidos de mercador e continuava solteiro. Um belo dia, porém, cansado de
ouvir sempre o mesmo refrão, respondeu secamente:
— Não me caso
com mulher da terra.
Estupefacto o
pai arregalou os olhos e perguntou:
— Com quem,
então, pretende casar, pode-se saber?
— Se é mesmo
preciso que eu me case, então quero a filha do Sol e da Lua.
— Mas, quem é
que pode ir até o céu pedir a mão desta senhorita?
— Não sei: mas
sei que é ela que eu quero e não me casarei com nenhuma outra.
Tomaram-no por
doido. E, desde esse dia, o pai não lhe falou mais em casamento.
Kia-Tumba, no
entanto, metera na cabeça aquela idéia fixa. E, um belo dia, escreveu ao Sol
uma carta que era um pedido de casamento feito em regra. Depois, foi
procurar o cervo, para lhe confiar a fim de que a levasse a seu destino. Mas o
cervo abanou a cabeça.
— Não, eu não
posso ir até o céu.
Kia-Tumba
dirigiu-se, então, ao antílope, mas ele se recusou, também.
— Não posso ir
até lá.
O jovem
recorreu ao falcão, mas o falcão abrindo as asas, negou-se:
— Não posso ir
até o céu.
— Eu subiria
até meio caminho, mas até o céu não posso chegar.
Então,
Kia-Tumba desistiu. Resignado, fechou a carta numa caixa, pensando que aquele
casamento era assunto encerrado.
O Sol e a Lua
tinham escravas que desciam à terra para buscar água das fontes. Mais de uma
vez, a rã as vira.
E quando a rã
ouviu falar do jovem Kia-Tumba e em seu estranho desejo de casar-se com a filha
do Sol e da Lua, tomou-se de curiosidade. E foi procurá-lo.
— Fez pedido
de casamento por escrito?
— Claro que
fiz. Mas não encontro quem o leve até o céu.
— Pois dê-me
essa carta e entregá-la-ei.
— Você! Como
vai poder chegar lá em cima, se nem mesmo os pássaros o conseguem?
Entretanto,
como não tivesse nada a perder, Kia-Tumba entregou a carta à rã. Porém, em tom
de ameaça, acrescentou:
— Se não for
capaz de chegar até o céu, vai levar uma surra de que se lembrará para o resto
da vida!
A rã não se
dignou sequer a responder. Foi ao poço onde as escravas do Sol e da Lua vinham
buscar água, pulou lá para dentro e ficou bem quietinha.
Não teve muito
que esperar. Logo mais, de fato, chegavam as escravas e desciam os cântaros ao
poço. Num deles meteu-se a rã. Uma vez cheios, puxaram-nos para cima. Depois,
voltaram para o céu e os depositaram num grande cômodo que servia de
reservatório. Feito isso, retiraram-se.
No meio do
quarto, havia uma grande mesa redonda. A rãzinha saltou para fora do cântaro,
colocou a carta na mesa e foi esconder-se no cantinho mais afastado.
Dali a
instantes, o Sol entrou e deu logo com a carta.
— De onde vem
esta carta? Perguntou às escravas.
— Não sabemos,
responderam elas.
O Sol abriu-a
e leu:
“Eu,
Kia-Tumba, homem da terra, desejo casar-me com a filha do senhor Sol e da senhora
Lua.”
Era
inesperado, era inaldito, um fato daqueles! Intrigado, o Sol pensava:
“Esse tal de
Kia-Tumba é habitante da terra; eu vivo no céu. Quem terá trazido até aqui essa
carta?”
Mas não falou
a ninguém sobre o caso e tornou a colocar a carta no lugar onde a encontrara.
Acabara-se a
água de novo e as escravas aprontavam-se para descer à terra. A rãzinha pulou
para dentro de um cântaro vazio e, sem que a rapariga que o carregou à cabeça o
percebesse, desceu dentro dele à terra.
Chegando ao
poço as escravas mergulharam seus cântaros e, quando a rãzinha se viu lá no
fundo, espirrou para fora e escondeu-se debaixo de uma pedra. Esperou que as
moças se afastassem, para abandonar o poço. Depois, seguiu para a aldeia.
Chegando à
cabana de Kia-Tumba, bateu à porta. O próprio Kia-Tumba veio atender e, ao ver
quem era a visitante, acolheu-a friamente:
— Veio receber
seu quinhão de pancadas? Onde está minha carta?
— Não vai me
dar pancada nenhuma, porque seu pedido de casamento chegou a seu destino.
— A quem o entregou?
— À pessoa
indicada.
— E por que não
teve uma resposta?
— Isso eu não
sei, respondeu a rãzinha. Mas, se quiser escrever mais uma vez, pedindo uma
resposta eu volto ao céu e entrego a carta.
Kia-Tumba
hesitava: temia que a rã brincalhona estivesse a fazer troça dele. Por outro
lado, parecia tão sincera que o jovem acabou por lhe dar crédito e decidiu
fazer o que sugeria.
Era mais ou
menos este o texto da carta que escreveu:
“Já lhes escrevi, senhor Sol e senhora Lua,
pedindo a mão de sua filha. Torno, agora, a escrever para pedir seu
consentimento.”
A rãzinha
repetiu a façanha da outra vez. Pulou para dentro do poço, esperou que nele
deitassem os cântaros as escravas do Sol e da Lua. Introduziu-se num deles e
num instantinho chegou ao céu.
Esperou que
saíssem do quarto da água, depositou na mesa a segunda carta e escondeu-se no
mesmo cantinho.
O Sol entrou,
notou a carta, leu-a e, cheio de curiosidade, interpelou as escravas:
— Meninas,
quem vai buscar água na terra são vocês. Por ventura trouxeram esta carta até
aqui?
— Não, patrão;
não fomos nós, responderam todas em coro, sem a menor hesitação.
O Sol começava
a estar intrigado: não sabia explicar como podia chegar até ele aquelas
mensagens.
Tomou de uma
folha de papel e escreveu:
“Você que me
escreve e quer casar com minha filha, leia com atenção: consinto no casamento,
desde que venha em pessoa entregar seu presente.”
Dobrou a
folha, deixou-a sobre a mesa e saiu do quarto.
Rãzinha não
perdeu tempo: pulou de seu canto, pegou a carta, escondeu-se num cântaro e
voltou com ela para a terra.
Qual não foi o
júbilo de Kia-Tumba diante da resposta do Sol! Rãzinha por pouco não ganhou um
abraço.
— Alegra-me
ver que você dizia a verdade, exclamou. Vou agora mesmo preparar meu presente e
você o levará imediatamente para o céu.
Pôs numa bolsa
quarenta moedas de cobre e escreveu uma terceira carta que dizia o seguinte:
“Senhor Sol e
senhora Lua, este é meu primeiro presente. Fico aqui na terra tomando
providências para o casamento.”
Usando o
sistema de sempre, rãzinha levou até o céu a bolsa repleta de moedas de cobre e
voltou para a terra.
Na semana
seguinte, estava novamente no céu, com um saco cheio de moedas, presente de
Kia-Tumba ao sogro, em regozijo pelo casamento.
Por fim, só o
que restava por fazer era marcar a datas das bodas. O rapaz, porém, tardava em
decidir-se, atormentado por uma idéia. Depois de muito matutar em vão, ao fim
de onze dias, resolveu apelar para a rãzinha.
— Estou-me
torturando, porque não consigo encontrar quem vá ao céu para me trazer de lá a
noiva. O que hei de fazer?
— Não vejo
razão para se apoquentar. Posso ir eu mesma e darei um jeito de trazê-la.
Kia-Tumba,
porém, sacudia a cabeça, incrédulo, e dizia:
— Agradeço
imensamente sua boa vontade. Conseguiu entregar as cartas e os presentes, é
verdade; mas é absolutamente impossível chegar a trazer-me a noiva.
— Sossegue,
replicou a rãzinha. E verá como serei capaz disso também. E, com essas
palavras, foi-se. Chegou ao poço, escondeu-se e ficou pacientemente à espera de
que as escravas fossem buscar água. Depois, como de costume, subiu ao céu e
escondeu-se no cantinho de sempre.
Quando o Sol
foi deitar-se e tudo ficou às escuras, rãzinha deixou seu esconderijo e
penetrou no quarto onde dormia a filha do Sol e da Lua. Aproximou-se da cama e,
trepando pelas cobertas, alcançou o travesseiro. E pousou delicadamente nos
olhos cerrados da formosa jovem duas folhazinhas verdes.
Eram folhas
mágicas: invisíveis aos olhos de todos, tiravam a vista a quem as usasse,
impedindo que se abrissem as pálpebras.
De fato, na
manhã seguinte, a moça despertou, mas não foi capaz de abrir os olhos. Pôs-se,
então, a choramingar, queixosa.
A Lua, boa
mãe, correu logo a sua cabeceira.
— O que tem,
minha filha?
— Ó mamãe! Não
consigo abrir os olhos e não enxergo!
O Sol acudiu,
também, e ficou perplexo, pois não via as folhazinhas.
— O que seria
isso? Resmungou. Mais parece obra de feitiçaria, pois ainda ontem minha filha
enxergava perfeitamente.
— É preciso
tomar alguma providência! Disse a Lua.
— Tratando-se
de encanto, o melhor é pedir conselho ao feiticeiro, lembrou o Sol.
Chamou
imediatamente dois escravos e os mandou irem ao bruxo pedir-lhe a abalizada
opinião.
O bruxo ouviu
atentamente o relato dos dois escravos. Depois, sentenciou:
— A donzela
enferma foi escolhida por um homem da terra. O homem atirou-lhe um encanto que
diz assim: “Mandem-me aquela que escolhi para minha mulher; do contrário,
morrerá dentro em pouco.” Avisem, pois, ao seu amo que envie a moça para a
terra o quanto antes. Só assim poderá livrá-la da morte.
Os escravos
regressaram e repetiram ao Sol as palavras do bruxo. Naturalmente, rãzinha,
escondida em seu canto, ouvia tudo. Na manhã seguinte, pulou para dentro de um
cântaro e desceu de novo à terra.
Assim que saiu
do poço, apressada e saltitante, dirigiu-se a casa de Kia-Tumba. Este a
aguardava ansioso.
— Alegre-se,
alegre-se! gritou-lhe de longe, que a sua noiva chega hoje.
Não obstante,
Kia-Tumba, incrédulo e desesperançado, suspirou com tristeza.
— Como é isso
possível? disse. Havia de ser maravilhoso demais! É melhor que se vá embora,
Rãzinha, porque começo a acreditar que você seja uma grande mentirosa!
— E eu repito
e sustento que disse a verdade! O Sol deu ordem a aranha que tecesse uma teia
resistente e tão comprida que desse para chegar à terra. Sua noiva virá
escorregando de lá de cima até cá embaixo. Espere e verá se não é verdade o que
digo...
E, com essas
palavras, a rãzinha voltou ao poço e escondeu-se na água.
À noitinha,
veio a aranha cor de prata descendo de mansinho, lá do céu até a beira do poço.
E, atrás dela, a linda filha do Sol, seguida de suas escravas, deixava-se
escorregar docemente lá de cima até cá embaixo.
A Rãzinha
saiu, então da água e, com toda a delicadeza, desprendeu-lhe dos olhos as
folhinhas. E ela pôde, por fim, abri-los. Depois, disse à moça que parecia
assustada:
— Não tenha
receio; vou levá-la eu mesma a presença de seu noivo.
Chegaram
juntos à cabana de Kia-Tumba e rãzinha bateu à porta. Kia-Tumba atendeu e quase
não podia crer no que os seus olhos viam.
— Aqui a tem,
disse rãzinha, solene. Já vê que está cumprido o que lhe prometi.
E assim foi
que Kia-Tumba, homem da terra, pôde desposar a filha do Sol e da Lua. E com ela
viveu feliz por muitos e muitos anos.
BIBLIOGRAFIA
Texto e imagens transcritos de:
FREIRE, Plinio Jucá. Fantasia Colorida da Criança. Ed. Focus, São Paulo-SP. 1990
Ps. Minha filha sempre adorou ouvir fábulas dessa enciclopédia. Adorava ouvir e ver as imagens. Imagino seus elaboradores fazendo tudo caprichosamente. Espero que mães e pais ainda se empolguem em comprar e em ler Fantasia Colodria da Criança para seus pequenos amores e futuros leitores!
esse texto me ajudou de mais na minha redação e também o texto ele espira muitas pessoas e muito legal.
ResponderExcluirEu foi quase isso que eu senti
ExcluirQual é o nome dos personagens do conto
ResponderExcluirkia tumba ranzinha sol lua escravos bela aranha dilla rapazes moças pai de kia tumba ect
ExcluirO sol.e a lua
ExcluirEse. Texto. E. Muito. Linda. Espírito
ResponderExcluir😀
Eu achei muito interessantes
ExcluirE o resumo
ResponderExcluir?
Não tem
ExcluirEu acho qye ss
ExcluirESTOU ESTUDANDO PARA A PROVA QUE EU VOU FAZER A REESCRITA DESSA HISTORIA.E PRESISO ESTUDAR E MUITO LÇEGAL A HISTORIA AINDA BEM QUE TEM NA INTERNET.KKKK
ResponderExcluirEu so estou um pouco
ExcluirÉ o resumo
ResponderExcluirEu ne um kkk
ResponderExcluirEu achei muito interessantes e um pouco romântico
ResponderExcluir