(fábula africana)
Era
uma vez uma mulher que tinha dois filhos gêmeos, aos quais dera os nomes de
Luemba e Mavungu.
|
No dia em que nasceram, um feiticeiro
entregara à mãe duas pedras arredondadas e lisas.
— Estes serão os talismãs de seus
filhos, dissera-lhe. Pendure-os desde já no pescoço das crianças e, quando
crescerem, diga-lhes que jamais se separem deles.
Assim fizera a mulher e os meninos
cresceram e se tornaram dois belos rapagões.
Certo dia, Mavungu, entediado com a
vida de sempre, decidiu partir.
— Não me oponho, disse a mãe. Mas
somos tão pobres que não posso nem lhe dar nada para levar.
— Não importa, respondeu o jovem.
Chegou o momento de pôr à prova as virtudes do meu talismã.
Despediu-se da mãe e do irmão e partiu
em direção à floresta. Ali chegando colheu uns fios de grama, tocou-os com o
talismã e...
— Que seja um cavalo! disse, atirando ao chão o fio mais comprido.
— Que seja uma faca! continuou,
dobrando outro fio.
— Que seja um fuzil! ordenou a um
terceiro.
Incontinenti, teve diante de si
garboso corcel, uma faca enfiou-se em seu cinto e belíssimo fuzil
dependurou-se-lhe às costas.
Mavungu, todo satisfeito montou a
cavalo, decidido, e deu início à jornada.
Horas a fio cavalgou, até sentir-se
cansado e com fome.
— Meu talismã, vai deixar que eu morra
de fome? disse, tocando a pedra.
Imediatamente, apareceu-lhe um
banquete. Apeou. Comeu e bebeu, até saciar a fome e a sede e depois, mais feliz
do que nunca, prosseguiu viagem.
Não muito distante de onde Mavungu
interrompera a jornada para comer, havia uma cidade maravilhosa, governada por
um rei, cuja filha era assaz caprichosa. Estava em idade de se casar, mas,
embora tivesse recebido diversos pedidos de casamento, a todos recusara, sistematicamente.
Mavungu chegou à cidade e parou à
beiro do rio. Ali estava a filha do rei, com uma porção de companheiras. Assim
que pôs os olhos no jovem estrangeiro, foi correndo para casa e anunciou ao rei
e à mãe:
— Acabo de ver o homem que desejo para
marido e sou capaz de morrer se não me casar com ele.
O pai mandou logo seus escravos ao
encontro do estrangeiro e convidou-o para um banquete em sua casa.
Mavungu causou ao rei ótima impressão,
tanto assim que, quando o jovem lhe ofereceu diversos presentes de valor, não
hesitou em propor que se casasse com sua filha.
E, em meio à alegria geral,
celebraram-se as bodas.
Na casa onde foram morar os
noivos, havia três grandes espelhos,
sempre cuidadosamente velados. Mavungu, tomado de grande curiosidade,
perguntou a razão daquilo. A mulher explicou-lhe que era muito perigoso olhar
neles. Todavia, como ele insistisse muito, ergueu o tecido que escondia o
primeiro espelho. E logo Mavungu viu, refletida nele, sua cidade natal,
completa, com suas ruas e casas.
—Quem olha neste espelho, disse, então
a mulher, vê a cidade onde nasceu. No outro vê as cidades que percorreu em suas
viagens.
— E no terceiro?
— O terceiro não pode ser desvelado, porque
reflete a imagem da cidade de onde não se volta.
— Deixe-me vê-la, gritou Mavungu e,
antes que ela pudesse impedi-lo, rasgou o tecido.
A imagem que lhe apareceu era
assustadora, mas ele a fitava intensamente, como que fascinado e sentiu-se
tomado de um desejo irresistível de visitar aquela cidade.
— Peço-lhe, suplico-lhe que não vá,
porque de lá não voltará! Implorou a mulher.
Mavungu,
porém, estava decidido a ir e não houve o que o dissuadisse. Montou a cavalo e
partiu.
Levou meses e meses cavalgando, até
que um dia, olhando ao redor, viu uma velha sentada junto a um montão de pedras
brancas e pretas.
— Velha, tem fogo para o cachimbo?
—Apeie e aproxime-se, respondeu ela.
Mavungu obedeceu, mas, assim que a
velha lhe tocou a mão, foi transformado em pedra negra e o seu cavalo em pedra
branca.
O tempo passava e, lá na aldeia natal,
Luemba estranhava a falta de notícias do irmão. E, um belo dia, resolveu sair à
sua procura.
Entrou na floresta, colheu um feixe de
erva e, por obra do talismã, transformou um fio num cavalo, outro fio numa faca
e outro ainda num fuzil. E partiu.
Alguns dias mais tarde, chegou à
cidade onde Mavungu se casara.
E assim que pôs os pés na rua
principal, rodearam-no, gritando:
— Mavungu, o marido da filha do rei,
está de volta!
Ao apear, viu vir-lhe ao encontro uma
formosa jovem que lhe dizia:
— Finalmente, está de volta!
Luemba procurava explicar que não era
Mavungu.
— Está querendo gracejar,
interrompeu-o a moça.
E, de alegria, pôs-se a dançar.
Luemba tentou em vão fazê-los
entender; mas, nem a mulher do irmão, nem o rei, nem os demais lhe prestavam
atenção. Luemba não teve, pois, outro remédio senão calar.
Tinha que averiguar por sua própria
conta, se quisesse descobrir que fim levara o irmão.
Teve ocasião de começar, logo ao
entrar em casa, quando a mulher do irmão, em tom de pilhéria, disse-lhe:
— Terá perdido a vontade de olhar nos
espelhos!...
— Não; não perdi; peço-lhe até que os
descubra.
Ela, dessa vez, não opôs resistência.
E foi assim que Luemba pôde ver a cidade onde nascera, depois os lugares que
atravessara viajando; e, por fim, a cidade de onde não se volta.
Compreendeu logo que para ali fora o
irmão e não voltara. Sem perda de tempo, disse:
— Agora me lembro que esqueci lá uma
coisa muito importante. Vou e volto o mais depressa possível.
— Vá, então; mal acaba de chegar e já
fala em voltar. Mas não demore tanto, que eu espero!
Luemba pegou a faca e o fuzil montou a
cavalo e saiu a galope.
Depois de muito cavalgar, ei-lo, por
fim, chegado ao montão de pedras brancas e pretas, junto ao qual estava sentada
a mesma velha.
— Velha, tem fogo para o meu cachimbo?
— Desça do cavalo e aproxime-se, disse
ela.
Luemba apeou e aproximou-se, mas, ao
invés de lhe estender a mão, bateu-lhe com o talismã.
Foi um instante: a terra abriu-se e
tragou a velha, que desapareceu, com um grito impressionante.
Luemba não perdeu tempo: foi logo ao
montão de pedras e pôs-se a tocá-las, uma a uma, com o talismã. E as pedras
pretas iam-se transformando em rapazes e as brancas em cavalos.
Naturalmente, no meio dos outros,
Luemba reconheceu logo Mavungu e os dois se abraçaram, comovidos e felizes.
Depois, montaram a cavalo e rumaram para a cidade, onde a mulher de Mavungu
aguardava pacientemente a sua volta.
Qual não foi o espanto geral, ao verem
os dois irmãos, idênticos um ao outro!
Houve festanças que se prolongaram por
três dias e três noites, com banquetes para os quais foi convidada toda a
população da cidade.
Depois, Luemba despediu-se e voltou
para a cidade natal. A mãe, ansiosa, foi-lhe ao encontro, perguntando por
Mavungu. Ele a tranqüilizou, disse-lhe que gozava de ótima saúde e contou-lhe a
aventura toda tal como se passara. Depois, levou-a para a cidade onde Mavungu
se tornara herdeiro do rei e ali transcorreu ela, feliz e serena, o resto de
seus dias.
Ao entrar em casa, Mavungu e a mulher
deram logo pela falta dos três espelhos. De fato, quisera a magia que, no
instante em que a velha sumira, tragada pela terra, sumissem também as três
placas luminosas.
E assim, ninguém mais soube onde ficava a cidade de
onde não se volta.
BIBLIOGRAFIA
Texto e imagens transcritos de:
FREIRE, Plinio Jucá. Fantasia Colorida da Criança. Ed. Focus, São Paulo-SP. 1990
Ps. Minha filha sempre adorou ouvir fábulas dessa enciclopédia. Adorava ouvir e ver as imagens. Imagino seus elaboradores fazendo tudo caprichosamente. Espero que mães e pais ainda se empolguem em comprar e em ler Fantasia Colodria da Criança para seus pequenos amores e futuros leitores!
Ps. Minha filha sempre adorou ouvir fábulas dessa enciclopédia. Adorava ouvir e ver as imagens. Imagino seus elaboradores fazendo tudo caprichosamente. Espero que mães e pais ainda se empolguem em comprar e em ler Fantasia Colodria da Criança para seus pequenos amores e futuros leitores!
Nenhum comentário:
Postar um comentário